Uma pessoa faz movimentos, e um personagem, em uma tela, imita. Parece divertido, mas é um "jogo sério", expressão utilizada para games que têm outros objetivos. Batizado de Agarre as Frutas, o jogo foi desenvolvido para ajudar na reabilitação de pacientes que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC). A tarefa até que é simples: movimentar os braços para que o personagem recolha frutas e os coloque em um cesto. Mas para quem sofre com as sequelas da doença, passar de fase é uma vitória e tanto para a vida.
O jogo foi o trabalho de conclusão de curso de Diego João Cargnin, em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Diego segue com o jogo em sua dissertação de mestrado. Com orientação do professor Marcos d'Ornellas, do Laboratório de Computação Aplicada da UFSM, ele procurou por profissionais da saúde da Federal e do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Foi aí que a professora Ana Lúcia Cervi Prado, da graduação em Fisioterapia da UFSM e chefe do setor de Fisioterapia do Husm, também entrou na jogada.
- Já tinha trabalhos sendo feitos com games, mas ainda nada específico para sequelas neurológicas, que são sequelas de quem sofreu AVC. Este jogo trabalha conceitos de neurociência, ativando neurônios de aprendizagem e memória. Ele foi feito pensando na recuperação dos membros superiores - conta Ana Lúcia.
Além das pesquisas na área de computação, Diego teve de estudar temas ligados à saúde, especialmente sobre a doença. Ele e seu orientador pesquisam este tema e trabalham neste game há cerca de três anos.
- Há um tempo de jogo, que é ajustável. A partir do resultado, de quantas frutas foram colhidas dentro do tempo, é possível perceber a evolução do paciente. Em um dia, o paciente ergueu o braço em um ângulo, mas, no dia seguinte, já ampliou este ângulo - exemplifica Diego.
Por enquanto, o game está sendo utilizado por profissionais e acadêmicos da área da Fisioterapia da UFSM (alunos a partir do 7º semestre da graduação, pós-graduação e professores), além de profissionais do Husm. Eles devem responder questionários, avaliando a funcionalidade e usabilidade do jogo.
Este é primeiro passo de um longo caminho para que o game possa ser usado por pacientes - deve ser comprovado algum benefício no tratamento e ser aprovado pelo Conselho de Ética do Hospital Universitário.